sexta-feira, 23 de março de 2012

Collider Entrevista Mike Shinoda e Joseph Trapanese Sobre The Raid

Christina Radish do Collider.com entrevistou Mike Shinoda e Joseph Trapanese sobre a trilha sonora de The Raid: Redemption, eles falaram sobre suas reações ao verem o filme pela primeira vez, como a parceria se formou, como eles se envolveram ou se interessaram no ramo de composição, sobre a manutenção da liberdade criativa enquanto artista e, muito mais. Mike também falou como ele se beneficiou do trabalho nesse score, quais as técnicas que ele está utilizando no álbum do Linkin Park que está por vir (essa parte está no final da entrevista). Leia a entrevista completa, abaixo:

No dia da divulgação do filme reservado à imprensa, Collider sentou com Mike Shinoda e Joe Trapanese (que também fez parceria com Daft Punk na incrível trilha sonora de Tron: O Legado) para uma entrevista exclusiva sobre suas reações quando eles viram o filme pela primeira vez, se esse é o tipo de filme que eles sairiam para assistir, o que levou cada um à composição de música, como a parceria deles se formou, sobre colocar juntos diferentes sons e temas musicais para os personagens e sobre a manutenção da liberdade criativa enquanto artista. Trapanese também conta o que ele aprendeu com a parceira com Daft Punk, enquanto Mike Shinoda fala como essa experiência tem mudado a maneira que ele aborda as coisas no Linkin Park, que tem um álbum agendado para sair ainda esse ano.
Collider: Como vocês viram o filme pela primeira vez e qual foram suas reações?

JOE TRAPANESE: Nós fomos pegos de surpresa! Primeiro vimos apenas algumas cenas. Eles não tinham finalizado a edição, então vimos algumas cenas e, de cara, nós dois dissemos, “Tudo bem”.

MIKE SHINODA: Inicialmente, quando eles perguntaram-me se eu queria me envolver no projeto, eles só tinham um trailer restrito. Eles tinham juntado alguns minutos das gravações e colocado algumas músicas. Eles sabiam que eu tinha feito um pouco do score de outros materiais. Eu me envolvi com isso, com meus colegas de banda, quando trabalhamos no segundo filme de Transformers. Fizemos um pouquinho do score lá, mas eu nunca tinha feito um score completo antes. Os caras da Sony disseram, “Para este filme, The Raid, estamos interessados em você para fazer o score. Nós realmente gostamos do material do Fort Minor e nós amamos alguns dos seus remixes”. Eu pensei nesses materiais e lembrei que todos eles foram agradáveis de fazer. Eles realmente estavam me pedindo para fazer algo que eu faço naturalmente e que eu faço por diversão. Então, me pareceu uma oportunidade trabalhar nisso e conseguir um pouco mais de experiência em score.

É esse o tipo de filme que vocês sairiam para assistir?

Shinoda: Com certeza é o tipo de filme que eu iria ver. Minha esposa e minha família não iriam, então se eu fosse, seria sozinho ou com outras pessoas. Quando estou na estrada é mais fácil fazer isso. Mas, é meu jeito. Eu costumo gostar de coisas obscuras.

Trapanese: Sim, minha namorada definitivamente iria dizer a você que esse é um filme que eu amaria assistir.

O que levou vocês a compor músicas para filmes?

Trapanese: Pessoalmente, quando eu entrei no ramo de música clássica, era desconfortável para mim ser o centro das atenções. Quando eu escrevia uma peça, era tipo “Tudo bem, eu preciso definir esta peça e o ouvinte precisa estar totalmente absorvido nela”. Eu ainda respeito muito essa arte, mas eu estou bastante interessado em música barroca e música mais atual. Se você voltar no tempo, compositores não tinham seus nomes nas músicas. Não temos ideias de quem escreveu algumas daquelas músicas. Se você prestar atenção em Bach, ele era um cara de colarinho azul, trabalhando todos os dias. Ele tinha que escrever uma cantata todo semana para a igreja para a qual ele trabalhava, caso contrário seria despedido. Então, essa ideia de ser um músico e compositor, não apenas por gosto próprio, mas também pelo gosto de promover música como uma função e afetar as pessoas dessa maneira, foi realmente inspirador para mim. É engraçado porque eu caí na música clássica pelo fato de amar scores de filmes. Eu comecei a ouvir John Williams, Star Wars, orquestras e isso me levou até a música clássica. Mas quando eu estava aquecendo meus estudos nesse ramo em Nova York, eu disse, “O que eu realmente quero fazer?” E a resposta foi, “Certo, estou me mudando para Los Angeles, e farei isso”.

Shinoda: Para mim, isso é o tipo de coisa que eu lembro da época da minha infância. Nós tínhamos um piano vertical na sala e meu irmão e alguns vizinhos estariam brincando por lá e eu estaria tocando algo que combinasse com o que eles estavam fazendo. É a mesma ideia. Eu acho que muitas das pessoas que cresceram tocando instrumentos, especialmente piano, porque esse instrumento combina bem com esse tipo de coisa. Eu sempre me imaginava como um ilustrador ou como um pintor, de algum tipo. Por um coinscidência milagrosa, quando eu estava terminando meu Bacharelado em Ilustração, a banda decolou. Eu seria idiota se não seguisse completamente com o Linkin Park, com tudo que fazemos. No entanto, sou do tipo de pessoa que tem interesses bastante variados. E então, sempre que eu tenho a chance de trocar de equipamentos e fazer outra coisa, eu tento agarrar esses momentos. O lance de fazer scores de filmes definitivamente não foi uma coisa para fazer apenas uma vez. Foi algo que eu realmente curti fazer desta vez e eu espero conseguir outras oportunidades de fazer coisas desse tipo, no futuro.

Vocês são mais artistas ecléticos do que apenas músicos. Isso é algo que vocês acham impotante nos dias de hoje, necessário para se manter relevannte e continuar fazendo sucesso?

Trapanese: Extremamente. Tanto para mim quanto para Mike, é uma coisa bem pessoal. Ser vorazes em relação à nossa arte e ser vorazes em relação a outras artes é bem inspirador. Mas mesmo se você analisar isso apenas de um ponto puramente funcional, filmes não tem mais aquele mercado do tipo, “Precisamos de um score do tipo do John Williams”. Se eu chegasse ao pessoal de The Raid e dissesse, “Tudo que eu vou fazer é escrever como se fosse para um orquestra”, eu seria expulso da sala a risos. Mesmo sabendo que eu tenho esse treinamento, eu tenho que entender. Eu tenho mexido com sintetizadores desde o ensino médio. Existe um grande elemento de hip-hop nessa parte. Eu cresci ouvindo hip-hop mas eu tive que me readequar, em relação à algumas ideias do hip-hop, para este score. Ter esse passado variado não é apenas satisfatório para mim, também é muito funcional.

Shinoda: Eu sinto que há coisas que eu faço naturalmente e que pelas quais eu me interesso naturalmente. Quando essas coisas podem se alinhar com o trabalho que eu estou fazendo, é aí que uma arte realmente boa pode surgir. Basicamente, o som que esse filme pedia foi exatamente o tipo que acabamos fazendo. Joe e eu realmente nos divertimos fazendo isso e as coisas fluíram naturalmente. Não houve um momento sequer no qual nós duvidamos da habilidade do outro de conseguir o som que a interpretação estava pedindo. Na minha opinião, há uma variedade boa nesse score. Já que tem tanta luta e tanta ação, isso nos obriga a combinar equipamentos em certos pontos. Precisava ser movimentado. Se você começa a fazer a abordagem irônica, a qual não deixa as coisas claras, então você precisa seguir com ela o tempo todo e isso não faz o estilo desse filme. O filme pedia algo rápido, energético, que te socasse no estômago e você precisa ter 10 tipos diferentes de score energético, te socando no estõmago. Foi o que tentamos descobrir no processo de trabalho no score.

Como vocês acabaram fazendo essa parceria? Um de vocês foi alcançado antes do outro?

Shinoda: A Sony me ligou e me pediu para trabalhar nisso. Eu queria ter um parceiro, grande parte desse desejo estava baseado na minha agenda de trabalho com o Linkin Park, porque estávamos prestes a sair em turnê pela Ásia por um mês, mas eu realmente queria fazer isso. E também, eu senti que, naquele momento, eu tinha muito a aprender sobre o fluxo do trabalho, coisas simples como de que maneira dispor as faixas. Estou acostumado a trabalhar com stereo, o oposto do 5.1, por exemplo. Sendo assim, eu queria ter alguém a bordo para contribuir nesse sentido. Na verdade, eu entrevistei algumas pessoas, variou desde pessoas que eram essencialmente a versão musical de assistentes, até pessoas que estavam no nível do Joe, compositores que poderiam lidar com o score sozinhos e se sair bem. Joe se destacou porque ele já tinha feito a parceria com Daft Punk na trilha sonora de Tron: O Legado. Não é uma crítica ao filme, mas eu achei que o score foi melhor que o filme. Achei o trabalho de Joe excelente, eu realmente amei, então quando eu falei com ele, nos demos bem e nós percebemos isso, eu nem pensei duas vezes sobre me comprometer com uma parceria, se ele quisesse, e ele quis. Nós começamos naquele instante.

Trapanese: Receber o telefonema do Mike foi realmente animador para mim porque eu lembro de ouvir Linkin Park no começo da carreira deles e lembro de realmente gostar. Eles tinham melodias fortes e que eram únicas. Eu continuei acompanhando a carreira deles e, em um certo ponto, um amigo meu me passou o material do Fort Minor. Sendo assim, quando Mike entrou em contato comigo pessoalmente, eu disse, “Certo, por onde começamos? Eu quero fazer isso”.

Foi intenção de vocês criar essas camadas emocionais no score, já que não existem muitos diálogos durante as cenas de lutas?

Shinoda: Juntamos temas diferentes para alguns personagens e usamos sons diferentes para outros. É meio score, meio design de som. Existem momentos diferentes nos quais você escuta apenas um segundo de um som e você sabe sobre quem é a cena, a quem está se referindo e que aquele personagem está presente mesmo se não estiver aparecendo.

Gareth Evans deu a vocês alguma direção sobre o que ele queria ou ele estava aberto a ver o que vocês iriam dar ao filme?

Shinoda: Na maior parte, Gareth realmente nos deu liberdade. Depois ele nos contou que ele intencionalmente não deu palpites em relação à música porque ele tinha completado o score orginal do filme (a versão mostrada na Indonésia) alguns dias antes. Desse modo, ele queria que nós mostrássemos nosso lado artístico. Depois ele falaria conosco, quando dessêmos algo a ele, e ele iria moldar o material da maneira que ele achasse melhor para o filme. Mas com o passar do tempo, nós fomos criando coidas e ele foi amando. Não haviam muito comentários. Eu brinco que a maior quantidade de comentários que recebemos foi um email de três páginas onde metade deles eram, “Isso é incrível!” Esse é o cenário dos sonhos de qualquer um.

Vocês tiveram um momento onde ambos pensaram, “Certo, isso está realmente funcionando”, e vocês souberam que a parceria estava indo bem?

Trapanese: Esses processos são um borrão, porque você tem que juntar tanta música em tão pouco tempo.

Shinoda: Você olha para trás e pensa, “Não houveram contratempos!”

Trapanese: Sim, a coisa foi andando sem problema. Se eu tivesse que apontar um momento, talvez não de realização, mas que me fez pensar, “Poxa, essa parceria é bem legal”, eu diria que isso aconteceu naquela longa deixa, aquela de 10 minutos, quando a explosão acontece e eles estão acordando e as cordas começam a surgir.

Shinoda: Esse foi um tipo diferente de cena para esse filme. Não tivemos muitas deixas como essa.

Trapanese: Então, isso foi desafiador. Eu olho para uma cena como aquela e imagino o que eu teria feito sozinho e o que eu acho que Mike teria feito sozinho e eu olho o que nós fizemos juntos e penso, “O que fizemos juntos supera muito qualquer coisa que fizéssemos separados, longe um do outro”, e esse foi um momento bem legal para mim.

Joe, alguma das coisas que você aprendeu com a parceria com o Daft Punk na trilha sonora de Tron: O Legado, tem lhe ajudado desde então?

Trapanese: Definitivamente! Uma das coisas importantes, apenas em ser um compositor em geral, é ter respeito pela arte em que você está trabalhando – respeitar o filme e respeitar as pessoas por trás dele. Quando eu faço parceria com outros artistas, eu sinto que sou a pessoa mais sortuda do mundo porque eu tenho a chance de aprender com a experiência deles e eu espero que eles se sintam da mesma forma sobre mim e sobre a minha história no mundo dos scores. Eu chego respeitando a arte deles. Tenho tido muita sorte, mesmo que você considere minha parceria com Daft Punk ou a que eu tive com M83 no sue álbum ou essa com Mike Shinoda, todos os artistas trazem respeito com eles também e eles realmente se dedicam ao trabalho, ao invés de ficarem, “Certo, aqui estão algumas batidas. Vou para festa”. Mike estava extremamente focado, assim como Daft Punk e da mesma forma que outros artistas com os quais eu trabalhei. Compreender a arte do score de filmes é extremamente importante e Mike entendeu completamente.

Mike, essa experiência mudou algo na sua forma de abordagem nas coisas, quando você está trabalhando com o Linkin Park?

Shinoda: Definitivamente houve um certo momento de “Ah-ha!” quando estávamos sentados revisando o que tínhamos feito até aquele ponto. Acho que tínhamos música para quase todas as deixas, sentamos com o pessoal da Sony e tocamos o material pela primeira vez, e ajustamos algumas coisas, para acoplar nossas ideias coletivas. Foi fácil e nós apenas saímos. Eu precebi, “Nossa, nós nem nos encontramos tantas vezes para chegar a esse ponto, e todos estão realmente satisfeitos”. Eu acho que o que nos levou tão rápido a alcançar tão bons resultados foi que, quando você se aprofunda na sua cova por muito tempo, você encontra o caminho. Você tem uma ideia criativa e ela te leva a outra e de repente, você se encontra nesse lugar onde você está realmente imerso em suas ideias, onde você tem uma imagem realmente boa de onde você está e isso não foi interrompido por críticas ou notas. Eu levei isso para a banda depois do trabalho no filme. Enquanto estávamos trabalhando em estúdio no nosso álbum, que vai sair ainda esse ano, eu disse para os caras, “Me aprofundar em algo antes de parar para analisar todo o material, realmente me beneficiou na criação do score que eu acabei de fazer”. E então, eu expliquei isso para a banda e nós implementamos isso na produção do novo álbum do Linkin Park.

Para vocês, quanto mais vocês fazem sucesso, fica mais difícil manter sua liberdade criativa, ou fica mais fácil porque as pessoas confiam mais em vocês?

Shinoda: Eu me sinto muito, muito sortudo por ter a liberdade criativa que eu venho tendo desde meu primeiro álbum. Hybrid Theory, o primeiro cd do Linkin Park, foi um completo pesadelo de produzir. Nós tínhamos grande parte das músicas já feitas quando entramos em estúdio e dia após dia, as pessoas ficavam nos criticando, pedindo para que mudássemos as coisas. Foi difícil brigar com eles e falar, “Não, nós vamos fazer do nosso jeito. Se vocês não gostam, vocês podem nos deixar de lado. Vocês podem nos expulsar da gravadora. Vocês podem fazer o que quiserem. Mas não seremos nada além da banda que entrou aqui pela primeira vez”. E eu me sinto muito afortunado pelo cd ter sido um sucesso. Desde então, eles ficam, “Tudo bem, esses caras sabem o que estão fazendo. Estamos confortáveis deixando eles a sós porque eles farão algo que nós amaremos”. Se isso algum dia mudar e trabalhar com música parar de ser divertido, eu ainda trabalharia com isso todos os dias, apenas não com as pessoas que estivessem atrapalhando a diversão.

Trapanese: O que é extraordinariamente único em relação a esse score é a quantidade de pessoas envolvidas. Tivemos muita sorte com The Raid, por as pessoas estarem com a cabeça no mesmo lugar. Quando os executivos da Sony paravam para checar, eles ficavam muito satisfeitos o que vínhamos fazendo. Houveram poucas notas. Às vezes, no ramo de score de filmes as coisas são diferentes, tem um produtor falando uma coisa, um direto dizendo outra e um executivo que pensa de outra maneira. O que é interessante no entanto, é que meu antigo professor de composição costumava me dizer, “Para cada problema que você encontrar, você vai achar uma solução melhor que tornará tudo melhor do que era antes”. E eu acredito bastante nisso. Um dos desafios que eu mais amo em relação ao meu trabalho, é encontrar essas soluções, achar maneiras de refazer as coisas e achar maneiras de fazer as coisas de um jeito que irá deixar todos do seu lado. Não é fácil fazer isso o tempo todo. É bem difícil na maioria das vezes, mas é o que me faz estar no estúdio todos os dias.


Fonte: mikeshinodaclan

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