Mesmo correndo o risco de aparentar uma bobagem oportunista, “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros” merece atenção. Primeiro porque significa uma ousada experiência de crossover entre gêneros cinematográficos que nunca se misturam: o drama histórico e a fantasia de horror, com pitadas de kung fu chinês.
A legitimidade desse procedimento se encontra na própria essência da ficção, ou seja, é lícito ao escritor imaginar a respeito do que não se acha documentado sobre um personagem real. Isso tem acontecido em filmes como “O Segredo de Beethoven” (2006), em que uma assistente teria lhe servido de “regente fantasma” na estreia da Nona Sinfonia, ou “O Corvo” (2012), no qual Edgar Allan Poe teria atuado como detetive pouco antes de morrer.
Há também neste filme produzido por Tim Burton a construção de uma metáfora ambiciosa e radical, associando o escravismo ao vampirismo, a ponto de pintar a Guerra da Secessão como um confronto entre vampiros e seres humanos. A própria irracionalidade da batalha de Gettysburg (julho de 1863), na qual o sulista General Lee ordenou um ataque frontal de 15 mil soldados contra os nortistas em maioria, serve de reforço ao desvario dessa pirueta de ficção.
O roteiro de Seth Grahame-Smith (autor do livro em que a trama é baseada e do roteiro de “Sombras da Noite”) é estruturado com precisão e lances de humor – como, por exemplo, uma projeção de imagens na base de um fenacistoscópio – além de um diálogo bem cuidado, incluindo frases que poderiam ter sido de fato pronunciadas pelo presidente, como “o poder real não vem do ódio, mas da verdade”, ou “a história registra os fatos, mas se esquece do sangue”. E, finalmente, merece mérito a sofisticada direção a cargo do cazaque Timur Bekmambetov (“Os Guardiões do Dia” e “O Procurado”), que nos oferece um tratamento visual exuberante, em que se destaca uma inacreditável perseguição em meio ao estouro de uma tropa de cavalos.
Fonte: pipocamoderna.com.br
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